sexta-feira, 22 de outubro de 2010

REENCONTRO

Te revi.
Tu estavas linda.
Teu abraço e teu beijo pareciam como de um sonho...

Daí acordei.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

TUDO, ATÉ MESMO OS SEGREDOS


Aqui, neste quarto, está guardado tudo que é meu.

Aqui estão minhas altas montanhas, pináculos de rocha e gelo, buscando alcançar o céu. Também há meus mares revoltos e minhas praias banhadas de luar. Ora está a exuberância da fauna e flora das florestas, ora a aridez de meus desertos, dos meus cactos, de minha escassez. Sob as águas calmas, escondem-se fossas abissais, como aquela bagunça que se põem longe da vista e da repreensão das mães. Suas profundezas carregam aqueles que sobreviveram ao mais inóspito e transformaram-se em monstro. Todavia, não foque apenas aí. Chegue mais perto e olhe a abóboda com minhas estrelas radiantes que se movem apenas com o passar dos séculos. Voam meus pássaros, na migração das andorinhas ou no orgulho das águias. Ali estão minhas feras: felinos em sua beleza, lobos altivos, raposas astutas. Ali, reina a calma dos herbívoros e a inquietação dos esquilos.

Se me quer por inteira, apresento-te minha planície e suas suaves ondulações cobertas de flores-do-campo. Mas, cuidado. Em meio ao perfume, pode estar a serpente. Entretanto, até mesmo ausência dela faria a paisagem órfã.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DOS POODLES (OU DA AUTO-SABOTAGEM)


Eu me lembro do dia em que o conheci. Um filhote fofo e peludo, levado no colo pra lá e pra cá por G. Nunca simpatizei muito com poodles, como se a mistura entre pêlo de ovelha e ganidos não me agradasse muito e eles sempre me pareceram muito chutáveis.

O mundo que, por acaso, separa, por destino, une. G. foi o meu primeiro amor primaveril, de quando, para mim, ser adolescente ainda era status defensável. O reencontro me devolveu um grande amigo: companheiro de estudos, tragos e teorias. E o Toby continua um poodle branco e inquieto. Todavia, nos últimos anos, estressado com as vicissitudes da vida de cachorro doméstico, ele deu de se auto-ferir. Morde-se até sangrar; carrasco de seu próprio sofrimento.

Se dei toda essa volta e tanto me expliquei (pois - por mais que pareça - essa postagem não tem uma finalidade canina), é por que me peguei pensando o quanto seres humanos frequentemente se aproximam desses instintos. A diferença é que as mordidas não ficam tão visíveis em nossa carne. E ainda podemos transformá-las em literatura.