segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

QUANDO FEMININO SIGNIFICA FRÁGIL.


Olho desconfiada para os sapatos. Eles me acrescentariam 12 cm de altura. E a impossibilidade de correr. Um traseiro mais empinado em troca de dificuldades de locomoção. Já não consigo entender essa inversão de prioridades. O que parece ser o nosso belo feminino é também o que nos torna frágeis.

Não sei em que momento da nossa cultura essa correlação começou. É só se lembrar das antigas histórias, dos romances de cavalaria. Fortes heróis salvando mocinhas indefesas. E puras. E castas. E virgens. Essa ironia quixotesca seguiu nas suas versões modernas. Todavia, agora elas já são heroínas. Já trocam tiros com malfeitores e golpes de artes-marciais. Porém, poucas tem a franqueza de Xena: armaduras e botas. A espiã luta e mata de vestido longo, salto alto e maquiagem completa. Se a mulher deixo de ser fraca, ela é ainda feita frágil (cá entre nós: todas que já tentaram fazer qualquer movimento mais brusco com esses trajes sabem do que eu falo).

Não é pura insistência minha falar de mulheres. Há, sim, exigências diferentes entre homens e mulheres. Por um momento, excluo da minha mente as vozes dissonantes da cultura de massa. Concentro-me apenas nas imagens reproduzidas nos programas televisivos populares e copiados no senso-comum das ruas. É ali que vejo claramente a mulher-frágil: mal-equilibrada em cima do salto alto, vestindo roupas feitas para expor o seu corpo - e, por isso mesmo, que limitam os seus movimentos - com seus cabelos alisados, tingidos, relaxados, mechados (esqueci alguma coisa?), unhas longas cobertas de esmalte, brincos pesados e maquiagem. Não venham com desculpas biológicas para a fragilidade feminina. A biologia não a vestiu assim, não a ensinou a se portar desse jeito. Aqui o abismo é cultural.

Quando eu era menina, descobri logo que o mundo se dividia entre o rosa e o azul. E daí se eu gostava de azul, eu havia nascido no lado rosa, logo, bonecas pra mim. Eu achava bonecas um tédio (a não ser quando eu podia fingir uma fuga de caras maus ou ser o cara mau). As barbies, então, eu detestava. Lembro-me que despia aqueles seres disformes e ficava me indagando como elas podiam ter - ao mesmo tempo - pernas tão compridas, tanto peito e tal ausência de cintura. Não é por acaso que o meu eu-infantil via que há algo errado ali. Sempre há algo errado quando se proíbe uma criança de algo pelo fato dela "ser menina" (ou vice-versa). Até porque eu nunca desejei ser menino. Só queria a liberdade de um.

Crescemos aprendendo a ser frágeis. Assimilamos instintivamente que as diferenças entre ser homem e mulher ultrapassam - e muito - a diferenciação anatômica. A mulher deve ser jovem e bonita. O homem deve ser forte e másculo (e jamais chorar). Desculpa-se a violência do homem na culpa da fraqueza da mulher. Aqui está o nosso mundo: criado por Deus, perfeito, violento e machista.

Talvez, nesta altura da vida, eu já devesse ter me acostumado com tudo isso. Repetir, como mil papagaios em volta, que é "natural" que as coisas sejam como são. Entretanto, não consigo achar nem "natural", nem "normal", muito menos "bom", que devamos passar nossos dias perseguindo o que é considerado feminino ou masculino, restringindo-nos a isso. A alma humana me parece mais ampla e muito menos monótona.