domingo, 5 de dezembro de 2010

A MINHA CAIXA DE PANDORA PARTICULAR


A lua está cheia. Meu peito está cheio de ti. Mas não o ar que eu respiro. Sequer o teu cheiro. Nem nas pequenas coisas tuas que eu guardo. Aqui está o gráfico de alturas e pesos, que usaste para rir de mim. Tua escrita, tua letra pedindo para que eu voltasse para contar meus piores dias. A folha já se borra com as lágrimas incontroláveis. O ingresso da peça que assistimos juntas. Teu grampo, do qual eu me apropriei. Todos aqui, guardados carinhosamente. A flauta é sempre uma lembrança. Os livros que me deste. O livro que me emprestou. Tuas fotos. Tu sempre tão bela.

Às vezes, o que eu mais quero é esquecer por completo de ti. Estripar-te da minha vida. Mas, toda vez que eu tento, só corto a mim mesma. 

CONCLUSÕES SOBRE A PAIXÃO - QUALQUER PARTE

Nossos melhores beijos foram de um amor desesperado, um amor espinhoso.

domingo, 21 de novembro de 2010

EU CHOREI POR KARENIN


A dificuldade das palavras.
A pronúncia das palavras vai além de cada fonema. É como se o som requisitasse mais do que apenas cordas vocais aptas. É mecânico falar das banalidades, ditar as sentenças, recitar os poemas alheios. Já as frases concatenadas nas profundezas dos abismos do ser e do dever ser travam nas gargantas desconhecidas, nos soluços que vêm da alma.
Quero dizer e não consigo, como se o vocabulário não me bastasse e nenhuma sintaxe fosse suficiente. Vivo do silêncio e do retweet, furtando os textos alheios, chorando minhas lágrimas por Karenin - que era só um cachorro. Não há como chorar por Tereza, Tomas, Franz ou Sabina; resta-nos as lágrimas pelo cão. Eu que lhe havia dado Stendhal sem mesmo saber que já o conhecia como um autor noturno.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

REENCONTRO

Te revi.
Tu estavas linda.
Teu abraço e teu beijo pareciam como de um sonho...

Daí acordei.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

TUDO, ATÉ MESMO OS SEGREDOS


Aqui, neste quarto, está guardado tudo que é meu.

Aqui estão minhas altas montanhas, pináculos de rocha e gelo, buscando alcançar o céu. Também há meus mares revoltos e minhas praias banhadas de luar. Ora está a exuberância da fauna e flora das florestas, ora a aridez de meus desertos, dos meus cactos, de minha escassez. Sob as águas calmas, escondem-se fossas abissais, como aquela bagunça que se põem longe da vista e da repreensão das mães. Suas profundezas carregam aqueles que sobreviveram ao mais inóspito e transformaram-se em monstro. Todavia, não foque apenas aí. Chegue mais perto e olhe a abóboda com minhas estrelas radiantes que se movem apenas com o passar dos séculos. Voam meus pássaros, na migração das andorinhas ou no orgulho das águias. Ali estão minhas feras: felinos em sua beleza, lobos altivos, raposas astutas. Ali, reina a calma dos herbívoros e a inquietação dos esquilos.

Se me quer por inteira, apresento-te minha planície e suas suaves ondulações cobertas de flores-do-campo. Mas, cuidado. Em meio ao perfume, pode estar a serpente. Entretanto, até mesmo ausência dela faria a paisagem órfã.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DOS POODLES (OU DA AUTO-SABOTAGEM)


Eu me lembro do dia em que o conheci. Um filhote fofo e peludo, levado no colo pra lá e pra cá por G. Nunca simpatizei muito com poodles, como se a mistura entre pêlo de ovelha e ganidos não me agradasse muito e eles sempre me pareceram muito chutáveis.

O mundo que, por acaso, separa, por destino, une. G. foi o meu primeiro amor primaveril, de quando, para mim, ser adolescente ainda era status defensável. O reencontro me devolveu um grande amigo: companheiro de estudos, tragos e teorias. E o Toby continua um poodle branco e inquieto. Todavia, nos últimos anos, estressado com as vicissitudes da vida de cachorro doméstico, ele deu de se auto-ferir. Morde-se até sangrar; carrasco de seu próprio sofrimento.

Se dei toda essa volta e tanto me expliquei (pois - por mais que pareça - essa postagem não tem uma finalidade canina), é por que me peguei pensando o quanto seres humanos frequentemente se aproximam desses instintos. A diferença é que as mordidas não ficam tão visíveis em nossa carne. E ainda podemos transformá-las em literatura. 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

RÉUS E LÁGRIMAS


Aimoré morreu.
Tuberculose, aos 30 anos. O que era antes doença mal-de-século, hoje ataca aqueles trancados nas celas lotadas e insalubres. Não o conheci. Conheço apenas o que os papéis falavam sobre ele. É muito contraditório ficar triste por alguém cuja condenação se pediu? Meu réu, por três vezes. Eu preferia mais uma denúncia ao invés dessa certidão de óbito que me obrigo a ler. Achei que sempre voltaria, sempre com um novo furto, por mais que tivesse esperança de que não fosse preciso mais furtar.

Derramei uma lágrima por ti, Aimoré. No banheiro, para ninguém aqui no Ministério Público ver que eu choro por um condenado.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

POESIA RUIM - QUARTO

E a minha aula de processo civil virou algo próximo de literato.



EXECUÇÃO DE AMORES INCERTOS

Adjudico os bens
ou aceito tua proposta
ousada (indecente)
de dação em pagamento?
Meu envolvimento é impenhorável.
Todavia,
já o levaste em arresto liminar.
Conclamo minha impugnação
e tu acenas
o que eu mesmo sentenciei.
Estou insolvente,
só como depositária ainda sou fiel.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

POESIA RUIM - TERCEIRO

O TEMPO SOBRE NOSSAS FACES

A urgência do meu beijo
já te informa
desses amores de bomba-relógio.
Entre todas, escolhemo-nos
e a vida, numa rápida passagem,
uniu duas trilhas
em uma única senda.
Todavia,
o que fazer se
eu quero conhecer as montanhas
e tu deseja permanecer na planície?
Só me contento
com os grandes abismos,
os lagos em altas latitudes
e as florestas impenetráveis.
Tu caminha pelos campos
e se limita aos regatos.
Então, beijo-te
com a insistência de uma paixão que se vai,
enquanto somos só nós duas
e o mundo não tem importância.
A ilha de mágica a dois
é bruma
presente, porém intocável.
A paixão é venda de minhas inquietações.
Teu beijo, ambrosia
de uma vida mais eterna.
A utopia de uma felicidade
que se afasta e aproxima-se
como um pêndulo
de um tempo que escorre
sobre nossas faces.

sábado, 10 de julho de 2010

POESIA RUIM - SEGUNDO

TEUS

Aos teus beijos,
superação do cotidiano,
dou todos os meus segredos
nessa necessidade do escondido
tabu
e proibido.
E quando dá aquela vontade
é o grito calado
que transformo em suspiro
e conforto
nos teus braços.

POESIA RUIM - PRIMEIRO

A POESIA

A poesia
como uma fuga
do inferno juridicionalizante:
a doutrina que criou o próprio mundo
e transformou o mundo que a tinha criado.
Só que, às vezes,
como um suspiro,
escapa a realidade do seu carrasco.
E o riso não-legalizado
interrompe
a fala dos eminentes doutores.
O vento que consome a toga em pó
também cheira à liberdade.


Não é só delírio na madrugada, mas acredito que também carrega um pouco de arte. E esses poemas, escritos a algum tempo, em rascunhos e folhas soltas, levam a marca de cada particular segundo da existência. Então, por fim, tomei essa coragem de publicá-los, em meio a miscelânea do qual esse blog é tomado. 

Fiquem à vontade.

domingo, 20 de junho de 2010

UMA OUTRA QUADRILHA

Parodiando (e engayzando) Drummond...


Uma Outra Quadrilha
João amava Renato que amava Raimundo
que amava Michele que amava Joaquim que amava Thiago
que vivia no armário.
João foi para a Holanda, Renato para o manicômio,
Raimundo foi morto por skinheads, Michele ficou para travesti,
Joaquim suicidou-se e Thiago se juntou a J. Pinto Fernandes
esperando um dia poder casar.



Esse é dos meus momentos de quase-poetisa. E pra quem quer conhecer ou reler o original do poema subvertido, clique aqui.

P.S.: Tenho mais algumas poesias um pouco mais próprias. Publicá-las-ei, algum dia que perder a auto-vergonha.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

EXAGERADO

De Cazuza, só carrego as mentiras e as mancadas, já que as rosas não posso mais roubar. Entretanto, de todo o exagero que eu tenho, às vezes parece que a realidade não dá conta. As minhas introspecções, ironias e mal-humores, nada veio parar aqui nesse um mês e meio. Mas ao mesmo tempo, o blog sempre esteve na minha cabeça, nas folhas soltas e nos poemas secretos. Escrevo de novo, galere. Prometo (de promessas vazias) reeditar, reescrever, digitar, publicar tudo que é mais meu. E que, talvez, também diga alguma coisa a alguém.
E muitas coisas ocorreram. Não é que fiquei só presa à literatura e contemplação:
  • Fui arrastada por um ônibus. Aquele "renomado" serviço de transporte público me levando pelo asfalto em plena avenida no centro administrativo/judiciário da capital. Levei um susto. Tá, admito, um enorme susto. Praticamente não me machuquei e vou processar a empresa (uêba - meu curso finalmente útil!). E desenvolvi uma maneira particular de sair de qualquer coletivo:  atiro-me. P.S.: Mote novo: Suicida, sim; arrastada, jamais.
  • A faculdade me estressou. Ponto. O Mestre Penalista do post anterior continuou fazendo seu estrago. A ele se somou a Juíza-Que-Não-Conjuga-Plurais, a Professora-Código-Civil e o Grande-Navegador. Nárnia seria mais diversificada e mais divertida e eu sempre poderia conhecer uma princesa-gats. É como se o direito pudesse ser mais irreal do que Nárnia. Pena que direito garante (teoricamente) algum salário. Nárnia só tem um leão grande.
  • Meu estágio me obriga a condenar pessoas tolas por crimes idiotas. Não vou discutir moralismos. Só sei que me irrita demais mandar alguém passar uma temporada no presídio central por ter tentado furtar uma tesoura de cortar grama da sacristia de uma igreja. Quase tenho vontade de gritar pra essas pessoas aprenderem a cometer delitos decentes, já que elas vão ser presas - de qualquer forma - durante muito tempo naquele inferno de concreto e violência.
  • Ganhei e comi uma caixa de alfajores. E aprendi a fugir de estrangulamentos na minha aula de defesa pessoal israelense. Li livros, fiz um twitter (obrigaram-me, educadamente), dormi pouco, bebi muito, sai pra buachty, dancei com as bees, ouvi músicas, descobri recantos, escondi-me, fugi, procurei e vivi um pouco. Aquela menina talvez única (do outro post) virou minha namorada. Amor, vou fazer um post para a gente tá um dia desses.
  • E para finalizar meus pequenos atos, remodelei o blog. Novo fundo. Sempre gostei no mal sentido da história de Adão e Eva e agora ela está praticamente um arco-íris. E por pressão da namo, troquei a foto.
É isso aí. Feliz retorno a mim mesma. (E a foto é das minhas pseudo-tentativas de fotografia. Pra ti, querida, a foto-em-rosa, já que roubo é crime.)

terça-feira, 20 de abril de 2010

DIÁLOGOS ESCRITOS - I


 
Um diálogo durante uma maldita aula de direito penal, com contribuições by Menina-Ruiva*. Logo de cara, nota-se a inclinação do meu 'querido-professor' pelos crimes sexuais (tá, isso foi eufemismo pra tarado).

Eu: Hey, gats! Fascinante essa aula, não? Eu achei a história que ele contou agora brilhante ("suspirinhos"). Reações instintivas que levam a estupros são tão nããão-puníveis! 
Menina-Ruiva: Acho que estupro é SEMPRE justificável - nem deveria ser um tipo penal. Tô lendo que a Austrália reconheceu uma pessoa como sem sexo pela primeira vez, ê!! Mas não sei o que acontece se estupram ele/a. Vou perguntar pro Mestre! 
Eu: Pergunte o que acontece no caso de toque não-autorizado das genitálias(?) dele/a. E eu concordo contigo em relação ao estupro. Afinal, os homens devem mostrar pras elas o que as mulheres devem gostar. Isso que é educação para o bem da sociedade. Justifica tudo, o mestre que o diga. 
Menina-Ruiva: Acho que alienígenas podem estuprar também. (Senão seria discriminação contra eles.)

* Pseudônimo de uma colega minha simpática. Ela tem uma fina ironia que muito admiro, além de adorar militar sobre alguma boa causa e se vestir com muita dignidade.

SOBRE POSTAGENS REPRIMIDAS


Estou de volta, personas. Não foi dessa vez que o blog foi abandonado. Só a vida que anda correndo demais comigo, e entre aulas, festas, estudos, meninas (ou talvez só uma menina), reuniões, estágios, leituras, discussões, e-mails e outras chatices, diversões e responsabilidades, acabei deixando de postar. Até, porque, infelizmente, ainda sofro da tola necessidade humana de dormir. E ainda detesto acordar.

Mas né (viciei nesse "mas né"), deixar de postar não significa que deixei de escrever. É que o processo de criação de um post, para mim, não se limita a sentar na frente do PC e deixar a inspiração vir. Até porque a minha raramente vem quando chamada. Ela é caprichosa: aparece quando quer e vai embora sem avisar. Normalmente escrevo durante minhas aulas ruins, quando me revolto e nego-me a prestar atenção ao que o arrogante engravatado está falando lá na frente. Tenho um pendão pra uma veia poética/literária/irônica/cômica/qualqueroutracoisa durante essas aulas. Creio eu que é meu instinto de sobrevivência desviando a minha atenção. Afinal, tédio envenena.

Logo, vou transcrever alguma coisa de pensamentos desconexos em folhas soltas, textos rasurados e anotações em lugares indevidos. Nada mais do que elementos fractais do meu cotidiano.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

CINEMA E HOMOSSEXUALIDADES

Ciclo cool que está acontecendo esse mês na UFRGS:
(Clique na imagem para ampliá-la)

E como se não bastasse os dias com palestras, vai ter filmes o mês inteiro. Todos envolvendo temática homossexual/gênero e escolhidos a dedo. A programação pode ser conferida aqui. Tudo corre na sala de cinema redenção, no campus centro da UFRGS, durante o mês de abril.

Fiquem à vontade para aparecer e curtir o cinema com um enfoque um pouco diferente desta vez!

E os créditos ficam para o Coletivo LGBT da UFRGS e o departamento de difusão cultural.

domingo, 7 de março de 2010

E ASSIM NASCEU O BLOG

Pronto. Blog novo. Espero que esse dure mais que o falecido-outro-blog. Para os caros leitores, explico-me: mal de geminiana. Começo milhares de coisas, mantenho poucas e termino quase nenhuma. E meu signo cai como desculpa perfeita nesses casos. Mas né, sou brasileira, não desisto nunca (risos - piada velha) e aqui vai uma nova tentativa de blog. Pra isso, precisei de algumas coisinhas:

  • muito tempo livre (quer dizer, muitas coisas por fazer e vontade nenhuma de fazê-las);
  • alguma perturbação mental (pois duvido que, se eu tivesse atingido o nirvana, eu ia ter necessidade de me externar pra toda blogsfera);
  • confusão emocional permanente (pra deixar tudo mais divertido com todo o misto de paixão e irritação que só o ser humano "racional" possui);
  • não ter dinheiro suficiente pra tomar aquele café da tarde em Paris ou passear pelas ruas de Barcelona toda a vez que desse vontade;
  • ser levemente chata, irritante e irritável (se eu fosse sempre feliz, por que reclamaria aqui?);
  • admitir que a minha psicóloga tem vida. Logo, tenho que desabafar em algum outro lugar quando tiver Aquela Crise às 3 e meia da manhã;
  • ser metida-a-literata (aquela que sai escrevendo contos e poesias e dando pitaco em tudo);
  • e ser tomada, vez por outra, de um desejo irreprimível de narrar algum fato, situação ou opinião insólita, como um mosquito a zumbir ininterruptamente no meu ouvido. 

Aqui está o blog, aguardando as verdades, as mentiras e tudo mais que não é nem uma coisa ou outra. Fique à vontade, leitor, com as semi-verdades.